Primeiro Amor
"Desenhei o teu retrato
Na minh’alma em terno ensejo
Ficou lindo mas um dia,
Mão sei porquê ….Apaguei-o!
Apaguei-o …não! Tentei
Sumi-lo, cansando os braços;
Mas, por mais voltas que desse
Lá estavam sempre os teus traços!
Sobre esses traços delidos,
Para os apagar de vez,
Amando Inês, em seguida,
Fiz o retrato de Inês.
Mas esta só breves dias
Meu coração aqueceu:
O seu retrato esvaiu-se
Por baixo lá estava o teu!
Na minh’alma dolorida,
A arder em febre amorosa,
Desenhei depois as caras
De Julia, Gracinda e Rosa
Cada um desses retratos
Durava curtos instantes
Como a água, era a minh’alma,
Retratando os caminhantes.
Quantos rostos, um sobre outros
Desenhei ali, à pressa!
Sob eles sorria sempre
A tua airosa cabeça!
Dos outros ficaram manchas
Nevoeiros leves e baços
Porém, do teu, indeléveis,
Subsistem, finos, os traços.
Os outros fantasmas d’aves,
Voando, doidas, sem rumo,
Duraram breves momentos,
Foram traçados com fumo..
Porém o teu, neste peito
Perdura, nítido e nobre,
Como gravura a buril
Numa lâmina de cobre!"
Eugénio de Castro
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