terça-feira, setembro 11, 2007

Na Margem do Rio Piedra...

"Eu sentei e chorei. Conta a lenda que tudo o que cai nas àguas deste rio - as folhas, os insectos, as penas das aves - se transforma nas pedras do seu leito. Ah, quem me dera que eu pudesse arrancar o coração do meu peito e atirá-lo na correnteza, e então não haveria mais dor, nem saudade, nem lembranças.
Nas margens do Rio Piedra eu sentei e chorei. O frio do Inverno fez com que eu sentisse as lágrimas na face, e elas misturaram-se com as àguas gelads que corriam diante de mim. Em algum lugar, este rio junta-se com outro, depois com outro, até que - distante dos meus olhos e do meu coração - todas estas àguas se confundem com o mar.
Que as minhas lágrimas corram assim para bem longe, para que o meu amor nunca saiba que um dia chorei por ele. Que as minhas lágrimas corram para bem longe, e então eu esquecerei o Rio Piedra, o Mosteiro, a igreja nos Pirinéus, a bruma, os caminhos que percorremos juntos.
Eu esquecerei as estradas, as montanhas e os campos dos meus sonhos - sonhos que eram meus, e que eu não conhecia.
Eu lembro-me do meu instante mágico, daquele momento em que um "sim" e um "não" podem mudar toda a nossa existência. Parece ter acontecido há tanto tempo e, no entanto, faz apenas uma semana que reencontrei o meu amado e o perdi.
Nas margens do Rio Piedra escrevi esta história. As mãos ficavam geladas, as pernas entorpecidas pela posião e eu precisava parar a todo o instante.
- Procure viver. lembrar é para os mais velhos - dizia ele.
Talvez o amor nos faça envelhecer antes da hora e nos torne jovens quando a juventude já passou. Mas como não recordar aqueles momentos? Por isso escrevia, para transformar a tristeza em saudade, a solidão em lembranças. Para que, quando acabasse de contar a mim mesma esta história, a pudesse lançar no Piedra - assim me tinha dito a mulher que me acolheu. Para que então - lembrando as palavras de uma santa - as àguas pudessem apagar o que o fogo escreveu.
Todas as histórias de amor são iguais."

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